Latência

Às vezes peço pra não esquecer,

o que me motiva,

faço de trabalho o meu viés!

...Peco por esquecer,

tendenciosamente sublinho influências,

reverto atitudes alheias, corrijo posturas,

arbitrariamente minto pra mim,

Eu sempre fui cheio de vírgulas, mas sem ponto final

Abstração

Não podemos avaliar uma estrofe como avaliamos um carro, pois nela não há significado direto. Uma estrofe ou se absorve ou se abstém. Qualquer crítica é leviana. Entrar em sintonia é mais do que compreender, é interagir com algo invisível, tocar em algo abstrato.

Desconcentro

Torço meu pescoço para ver o que está refletido no espelho, logo um pássaro apressado rouba a cena quando atravessa a janela, minha atenção então se volta completamente para o lado de fora, reclino-me na cadeira, observo por uns instantes, penso. Lembro-me da nostalgia que são os filmes franceses, do que comi no café, tento pensar no que farei mais tarde, arregalo os olhos como se estivesse acordando de um sonho, levanto-me, retiro meus óculos dobrando-os cuidadosamente sobre um livro que não passei da terceira página, deixo pra trás a janela, fingindo não ver o pássaro que tentara novamente roubar a cena.

O Poeta

"Poeta não é aquele que escreve um livro de poesias, mas aquele que com uma poesia resume um livro" [Danilo Biazi]

Aspirar o que inspira

O pouco que tenho

não há de ser muito

apenas no fato

do pouco que em punho

carrego comigo

em desvaloroso cunho

Em sonho não quero

o concreto e completo,

não tragam o ouro

pois não vou pegar

aspiro meus louros

e meus trunfos

Antes fossem ideais

o tanto que almejo

mas o que imagino

é só o que vejo

aspiro o que inspira

em novos desejos!

Tanta calma

Ponho meus pensamentos na sacola

Nessa cola grudo tudo o que me assombra

A sombra triste de uma vida sem limite

e omite a razão de reviver um caos pessoal

Me traduzo como um livro sem prefácio

Sempre fácil dos problemas me desfaço

Me disfarço da mentira que aparece

A par é se comigo há sintonia em tom pastel

Crise protestada

Franzo a testa em um sinal de dúvida, segundos antes de tomar a atitude. Sempre falo pouco, mas naquele momento algo me dizia que o melhor seria não falar nada. Antes de responder qualquer coisa, me afoguei em um silêncio profundo, um momento de extrema percepção. Notei que esse silêncio me tornava mais inteligente a cada segundo, levantei-me, peguei a chave, consultei meus bolsos em busca do resto de meus pertences e me retirei, dando à minha ausência o papel de continuar dali a me fazer cada vez mais inteligente.

Conformismo

Estado inviolável de tranqüilidade.

Satisfaz com o que há de pouco.

Inerência, extrema fatalidade.

Comportamento inexorável da humanidade

Ó grande pai, que de sustento foi aclamado

Envia teu sentido para forçar a motivado

Aquele que se enrijece

Na conjuntura do passado

Faz com que tua voz a nós de despertado

Seja sinal para tudo que carrega no solado

Que descole deste chão a cola de seu sapato

Fazendo-se andar o calço que está colado

Estado inviolável, porém nunca há de eterno

Sucumbe as criaturas, aos montes, horas em cerdos

Inertes em suas cadeiras

São fracos montes de fetos

Essência...Decência...

Essência, transparência, um rápido flash e vejo aquilo que se considera por alma. Lavo minha mão antes de comer, uma pequena demonstração de civilidade, ainda com a cabeça baixa levanto meu olhar e procuro qualquer coisa que se pareça comigo no espelho, alguma imagem já codificada, não vejo nada.

Essência ? Transparência ? seria alma definida como uma energia sem forma, ou é apenas um consolo para uma questão sem resposta ?

Transparecer, criar...

deixar tudo de lado, ousar...

praticar minha essência...

meditar... mais outros montes de bobagens

lavo minha alma antes de comer, uma pequena demonstração de espiritualidade, quem sabe um dia dê certo, essa mistura de mim comigo mesmo!